Adnor Pitanga

André Klotzel

Cláudio Costa Val

Lisiane Cohen

Roman Stulbach

Wagner Assis


ADNOR PITANGA
diretor de Confissões de uma viúva moça

Qual o seu envolvimento com Machado de Assis?
Li muito na minha infância e adolescência pois meu pai tinha muitos livros em casa, inclusive a obra completa de Machado de Assis. Curiosamente, Machado não esteve entre minhas leituras dessa época da filmagem, de modo que somente no começo de minha vida adulta é que descobri o quanto eu estava perdendo.

Dentre tantos textos possíveis, por que você optou por adaptar Confissões de uma viúva moça?
Eu não optei por Confissões de uma viúva moça. Em verdade posso dizer que o texto é que me encontrou, através de um amigo distribuidor cinematográfico, o Nelson Moura. Eu tinha acabado de realizar um filme produzido pelo Victor di Mello, com quem o Nelson trabalhava associado, e como o filme tinha feito uma excelente bilheteria, eu estava com uma certa credibilidade na produtora. Certo dia, o Nelson me falou sobre Confissões..., dizendo que era um conto extraordinário e que daria uma excelente adaptação cinematográfica. Busquei imediatamente o livro e, aí vem uma curiosidade, acabei adquirindo uma edição bem antiga. Além de ter me encantado com o conto, somou-se o encanto de o ler numa edição que datava mais para o tempo de Machado do que para o do momento da leitura. O resultado é que em dois meses apresentei o primeiro tratamento do roteiro ao Nelson, que levou o projeto ao Victor,que topou produzir.

O que norteou o trabalho de adaptação?
Eu trabalhei a adaptação com respeito, mas extrema liberdade. A decisão de fazer o filme com atualização temporal deveu-se principalmente ao aspecto financeiro do projeto. O orçamento não comportava uma filmagem de época e qualquer tentativa nesse sentido iria comprometer seriamente a qualidade final do filme. Mas isto não me frustou absolutamente, pois fiquei também estimulado a tentar traduzir o drama dos personagens para o tempo atual (quando o filme foi feito). Isto obviamente é perfeitamente possível, pois embora a natureza humana mude em alguns aspectos, a essência é mais permanente. Se nos compararmos com o homem da caverna veremos um abismo de diferença, mas se nos compararmos com o homem bíblico vemos que a diferença já não é mais tão abismal.
O que eu mais mantive intacto foram os textos escritos, as confissões. As alterações nunca foram na essência da palavra escrita pelo Machado, pois seria estupidez de minha parte. A adaptação, aqui, foi quase sempre formal, na maneira de dizer a mesma coisa com uma linguagem comum à das pessoas da época atual.
Quanto à narrativa visual, não tive receio de introduzir coisas, como no momento em que o personagem masculino, sentindo-se deslocado no ambiente, pega um violão e toca (muito bem), atraindo a atenção sobre si. Fiz isto por achar que a música exerce um grande fascínio sobre todos nós. Infelizmente, a cena não ficou bem realizada. Falha minha que, como diretor, não soube recriar aquilo que imaginei como roteirista.