
ADNOR PITANGA
diretor de Confissões
de uma viúva moça
Qual o seu envolvimento com Machado de Assis?
Li muito na minha infância e adolescência pois meu pai tinha
muitos livros em casa, inclusive a obra completa de Machado de Assis.
Curiosamente, Machado não esteve entre minhas leituras dessa
época da filmagem, de modo que somente no começo de minha
vida adulta é que descobri o quanto eu estava perdendo.
Dentre tantos textos possíveis, por que você optou
por adaptar Confissões de uma viúva moça?
Eu não optei por Confissões de uma viúva moça.
Em verdade posso dizer que o texto é que me encontrou, através
de um amigo distribuidor cinematográfico, o Nelson Moura. Eu
tinha acabado de realizar um filme produzido pelo Victor di Mello, com
quem o Nelson trabalhava associado, e como o filme tinha feito uma excelente
bilheteria, eu estava com uma certa credibilidade na produtora. Certo
dia, o Nelson me falou sobre Confissões..., dizendo que era um
conto extraordinário e que daria uma excelente adaptação
cinematográfica. Busquei imediatamente o livro e, aí vem
uma curiosidade, acabei adquirindo uma edição bem antiga.
Além de ter me encantado com o conto, somou-se o encanto de o
ler numa edição que datava mais para o tempo de Machado
do que para o do momento da leitura. O resultado é que em dois
meses apresentei o primeiro tratamento do roteiro ao Nelson, que levou
o projeto ao Victor,que topou produzir.
O que norteou o trabalho de adaptação?
Eu trabalhei a adaptação com respeito, mas extrema liberdade.
A decisão de fazer o filme com atualização temporal
deveu-se principalmente ao aspecto financeiro do projeto. O orçamento
não comportava uma filmagem de época e qualquer tentativa
nesse sentido iria comprometer seriamente a qualidade final do filme.
Mas isto não me frustou absolutamente, pois fiquei também
estimulado a tentar traduzir o drama dos personagens para o tempo atual
(quando o filme foi feito). Isto obviamente é perfeitamente possível,
pois embora a natureza humana mude em alguns aspectos, a essência
é mais permanente. Se nos compararmos com o homem da caverna
veremos um abismo de diferença, mas se nos compararmos com o
homem bíblico vemos que a diferença já não
é mais tão abismal.
O que eu mais mantive intacto foram os textos escritos, as confissões.
As alterações nunca foram na essência da palavra
escrita pelo Machado, pois seria estupidez de minha parte. A adaptação,
aqui, foi quase sempre formal, na maneira de dizer a mesma coisa com
uma linguagem comum à das pessoas da época atual.
Quanto à narrativa visual, não tive receio de introduzir
coisas, como no momento em que o personagem masculino, sentindo-se deslocado
no ambiente, pega um violão e toca (muito bem), atraindo a atenção
sobre si. Fiz isto por achar que a música exerce um grande fascínio
sobre todos nós. Infelizmente, a cena não ficou bem realizada.
Falha minha que, como diretor, não soube recriar aquilo que imaginei
como roteirista.
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