
ANDRÉ KLOTZEL
diretor de Memórias
póstumas
Qual o seu envolvimento com Machado de Assis?
Meu envolvimento evoluiu da situação de leitura para a
de uma parceria – não-consentida pelo autor, diga-se de
passagem – que levou a um intenso envolvimento pessoal, sem nenhuma
pretensão a rigor acadêmico. Posso dizer que faço
grande torcida para que o autor não tenha se ofendido, desde
a posteridade, ao observar essa atitude.
Dentre tantos textos possíveis, por que você optou
por adaptar Memórias Póstumas de Brás Cubas?
Eu não optei por adaptar textos – não era esta minha
proposta inicial – e sim por contar histórias. Essa história
sem-história, que é o Memórias Póstumas,
me fascinou justamente pela constante oposição machadiana
entre o contar e o não-contar.
O que norteou o trabalho de adaptação?
O ponto-chave da adaptação foi achar o tempo e o espaço
em que se encontrava o narrador Brás Cubas. Uma vez que no romance
ele se dirige ao leitor depois de ter morrido – o livro foi publicado
mais ou menos 12 anos depois da morte de Brás Cubas – e
que para os fantasmas, diante da eternidade, o tempo de 12 anos ou 120
é praticamente o mesmo, achei que o personagem-narrador conheceria
a sétima arte e poderia se dirigir perfeitamente bem ao espectador
cinematográfico, como o faz.
|